Há dias, num "DJUMBAI" com os meus queridos meninos [jovens da minha rua], ouvi "coisas" que ainda estão a roer o meu interior, não sei até quando. Que tamanha dor! São "coisas" que, certamente, e infelizmente, não fazem parte da pauta dos nossos dirigentes políticos.

Amargurado, com lagrimas a escorrer nos meus olhos, estou a referir a socialização e aceitação de prostituição infantil em Bissau, sob olhar complacente da sociedade e dos próprios pais e encarregados de educação. Pais e encarregados de educação que, igualmente, na nossa opinião, se calhar, são vítimas desta coação social, ainda que beneficiem dos troquinhos resultantes da cruel exposição corporal das suas filhas ou educandas.

Estas crianças, ou meninas, de 14, 15, 16 e 17 anos, por sinal, muito carentes, e que vivem nos nossos bairros e ruas, são aliciadas com vantagens materiais e monetárias, mas que, num futuro próximo, serão "imparias" da sociedade guineense, porquanto, hoje, estão a ser negadas escolas e uma orientação educacional decente.

Tenho certeza que assim não quiseram os seus pais e encarregados. Ou seja, nenhum pai desejaria ter uma filha, na idade escolar, a vergar-se pela vida de rua. Isso não. Duvido. Está a acontecer assim, e nesta preocupante proporção, porque há uma total ausência de políticas públicas viradas e adequadas às famílias guineenses.

Caros compatriotas, não devemos ignorar que a família é a base de qualquer sociedade e nela assentam os valores e os princípios, com os quais constrói-se uma Nação. Por isso, é o nosso entendimento que as famílias guineenses devem/têm que ser salvas e (re)postas a autoridade, quanto antes, porque, se não, vamos continuar a (re)produzir "activos inactivos" e esta sociedade tornará mais doente do que já é, e, com certeza, haverá lugar para mais prostituição, mais crime organizado (tráficos humano e de droga, terrorismo, assaltos, roubos, etc.), assim como mais delinquência política e mais perversão de valores éticos e morais.

Salvar a família é salvar a si e a sociedade, e é construir uma comunidade sã e uma Nação próspera.

Bissau, 15 de Janeiro de 2025.

LC