Crônica: Três Anos Sem Justiça – O Vandalismo à Rádio Capital FM

07/02/2025 em Opinião

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Crônica: Três Anos Sem Justiça – O Vandalismo à Rádio Capital FM

Hoje, três anos depois, a memória do ataque à Rádio Capital FM da Guiné-Bissau ainda queima como uma ferida aberta. Foi em uma manhã aparentemente comum, quando um grupo de homens encapuçados e armados invadiu a sede da rádio. Sem piedade, destruíram equipamentos, intimidaram jornalistas e lançaram uma sombra de medo sobre aqueles que se dedicam, todos os dias, a informar e dar voz ao povo. Aquele ato de vandalismo não foi só uma agressão contra uma rádio, mas um ataque direto à liberdade de expressão, um direito fundamental que deveria ser inquestionável em qualquer democracia.

A Guiné-Bissau, um país já marcado por sua história turbulenta, viu, naquele momento, a linha tênue entre a liberdade e a repressão se romper. A Rádio Capital FM, um dos poucos veículos independentes no país, foi silenciada pela força bruta, e com ela, o direito do povo de ouvir, questionar e formar opinião. O ataque foi claro, mas a resposta das autoridades? Essa, até hoje, permanece ausente.Três anos se passaram, e a justiça, aquela que deveria ser o remédio para a dor de tantos, não se fez presente.

O que faz o silêncio das autoridades ser ainda mais cruel é a impunidade que floresce em um cenário onde a justiça não é uma prioridade. Como podemos viver em uma sociedade que se diz democrática, onde a voz do povo é silenciada por quem tem o poder de tomar as rédeas da violência? Como podemos aceitar que, após três anos, os responsáveis por esse ataque ainda andem livremente, sem que se veja um esforço sério para que a justiça seja feita?

Esse vazio, essa falta de ação, é mais do que uma simples falha do sistema judicial. É uma mensagem perigosa enviada à sociedade: "A liberdade de imprensa pode ser atacada sem consequências". É uma mensagem que não apenas intimida jornalistas e comunicadores, mas todos nós, cidadãos que dependemos da informação para formar nossas opiniões e tomar decisões conscientes.

Por mais que a Rádio Capital FM tenha se reerguido após o ataque, o medo persistiu, e as cicatrizes continuam visíveis. Cada vez que um jornalista entra no ar, cada vez que um repórter escreve uma nova notícia, eles o fazem sob a sombra de um governo que, até agora, se mostrou lento, indiferente e até complacente diante da violência contra a liberdade de expressão. Não basta dizer que se é a favor da liberdade de imprensa; é necessário agir, punir os culpados e garantir que tais ataques não se repitam.

Mas, mais do que isso, o que nos exige esse momento é um compromisso mais profundo com a justiça. Um compromisso com todos os jornalistas, com todos os comunicadores, que enfrentam diariamente o risco de represálias por simplesmente desempenharem seu papel na sociedade. A luta pela liberdade de expressão não é algo que pode ser encarado como um luxo ou uma conquista garantida; ela é uma batalha diária, que exige vigilância e ação constante. E, neste caso, essa batalha continua sem vitória.

Hoje, três anos depois, não podemos esquecer o que aconteceu à Rádio Capital FM. Não podemos permitir que a dor da violência se apague sem que a justiça tenha sido feita. O ataque à rádio não foi apenas uma agressão a uma instituição de comunicação, foi um ataque à nossa democracia, à nossa liberdade. E é por isso que, enquanto os responsáveis ainda não pagaram por seus atos, o silêncio das autoridades guineenses ressoa com um eco doloroso: a impunidade nunca deve ser a última palavra.

O que resta agora é não esquecer. Lembrar, hoje e sempre, que a luta pela liberdade de expressão é contínua e que, no final das contas, não se trata apenas de uma rádio, mas de todos nós. De um país que merece mais do que a violência como resposta. De uma Guiné-Bissau que precisa, mais do que nunca, de justiça e de verdade.

Por: Jornalista Nelson Oliveira Intchama

Por CNEWS

07/02/2025