Desafios Linguísticos na Guiné-Bissau: A Dificuldade de Falar Português e Possíveis Soluções

Introdução:

Na Guiné-Bissau, um país com uma rica diversidade cultural e uma grande variedade de línguas étnicas, o português é a língua oficial, mas não é a língua materna da população. A situação linguística no país é ainda mais desafiadora devido ao alto índice de analfabetismo, que agrava a dificuldade de aprendizagem da língua portuguesa. A realidade educacional é marcada por um grande número de alunos com dificuldades de expressão em português, o que se reflete tanto nas escolas quanto nas universidades. Este artigo examina as causas desse problema, os impactos do analfabetismo e as barreiras linguísticas no sistema educacional, além de apresentar soluções para superar esses desafios.

O Desafio Linguístico na Guiné-Bissau:

1.               Diversidade Linguística e Cultural: A Guiné-Bissau é um país multilingue, isto é, com muitas línguas étnicas faladas pela população. Embora o português seja a língua oficial, é falado por uma pequena parte da população, enquanto o crioulo guineense e outras línguas locais são as línguas do cotidiano. Esse cenário cria um grande abismo linguístico, já que a maioria dos estudantes entra na escola com o português sendo uma língua estrangeira.

2.               O Impacto do Analfabetismo: O analfabetismo é uma questão crítica na Guiné-Bissau. De acordo com dados internacionais, o país possui uma das taxas de analfabetismo mais altas do mundo (Em 2021, a taxa de alfabetização na Guiné-Bissau era de 52,9% para a população com mais de 15 anos), embora segundo Braima Indjai, coordenador dos centros de alfabetização, o índice de analfabetismo diminuiu de 60% para cerca de 45% graças a estas formações de alfabetização.

Com uma grande parte da população adulta sem acesso à educação formal. Esse panorama tem consequências diretas no sistema educacional, já que muitos estudantes vêm de famílias com baixo nível educacional, o que dificulta ainda mais sua aprendizagem na língua portuguesa. Para esses alunos, o ensino do português se torna ainda mais desafiador, pois enfrentam dificuldades tanto na leitura e escrita quanto na compreensão oral da língua.

3.               Dificuldades no Ensino Fundamental: No contexto escolar, as dificuldades com o português começam desde os primeiros anos de escolaridade. Muitos alunos são introduzidos ao português tardiamente e, além disso, muitos já enfrentam desafios relacionados ao analfabetismo. A falta de uma base sólida na leitura e escrita, associada à ausência de uma prática cotidiana em português, impede o desenvolvimento da fluência necessária para acompanhar o currículo escolar.

4.               Desafios nas Universidades: O cenário não melhora no ensino superior. Nas universidades, muitos alunos ainda enfrentam sérias limitações na proficiência em português. Isso resulta em dificuldades para compreender textos acadêmicos complexos, realizar pesquisas e elaborar dissertações. A persistência da barreira linguística no ensino superior compromete as oportunidades de desenvolvimento intelectual e profissional dos jovens guineenses.

Consequências da Dificuldade Linguística e do Analfabetismo:

As dificuldades linguísticas, somadas ao analfabetismo, têm consequências devastadoras para os estudantes e para o país como um todo:

Baixo Desempenho Acadêmico: O analfabetismo e a dificuldade com o português comprometem o aprendizado. Muitos estudantes não conseguem acompanhar o conteúdo escolar, o que resulta em um alto índice de repetência e evasão escolar. O desempenho acadêmico das crianças e jovens fica profundamente afetado, dificultando seu sucesso nas avaliações.

Exclusão Social e Econômica: A falta de fluência no português, junto ao analfabetismo, limita o acesso a empregos formais e a oportunidades de ascensão social. O domínio do português é essencial para a

inserção no mercado de trabalho e para o acesso a uma educação de qualidade, e sem essas competências, muitos guineenses ficam à margem do desenvolvimento econômico e social.

Ciclo de Pobreza e Desigualdade: O analfabetismo, aliado à barreira linguística, perpetua um ciclo de pobreza. Sem a educação formal necessária, os indivíduos não conseguem acessar melhores condições de vida, resultando em uma sociedade com altos índices de desigualdade e pouca mobilidade social.

Soluções Possíveis:

1.               Integração de Métodos Bilíngues: Adotar métodos de ensino bilíngues, que utilizem tanto o português quanto as línguas locais, pode ser uma forma eficaz de abordar a realidade linguística da Guiné-Bissau. Isso permitiria que os alunos construíssem uma base sólida no português, sem perder o vínculo com suas línguas maternas, o que poderia facilitar a aprendizagem e a adaptação ao sistema educacional.

2.               Fortalecimento da Educação Básica: Para combater o analfabetismo, é crucial investir na educação básica. A construção de escolas em áreas rurais, a melhoria da infraestrutura escolar e a oferta de material didático adequado podem ajudar a melhorar o acesso à educação de qualidade. Além disso, programas de alfabetização para adultos devem ser incentivados, com o objetivo de reduzir a taxa de analfabetismo na população em geral.

 

 

3.               Capacitação de Professores: O fortalecimento da formação pedagógica dos professores é uma medida essencial. O treinamento específico para lidar com alunos que têm dificuldades linguísticas e de alfabetização pode fazer uma grande diferença. Além disso, os professores devem ser incentivados a usar metodologias diferenciadas e práticas que tornem o aprendizado mais acessível e eficaz para todos os estudantes.

 

 

4.               Programas de Imersão Linguística: Criar programas de imersão linguística, onde os alunos possam praticar o português em contextos reais, pode ser uma estratégia eficaz. Parcerias com centros culturais, programas de intercâmbio e atividades comunitárias são formas de integrar o português no dia a dia dos estudantes, melhorando sua fluência na língua de maneira prática e dinâmica.

 

 

5.               Uso de Tecnologias Educacionais: O uso de plataformas digitais e recursos tecnológicos pode ser uma alternativa valiosa para melhorar a aprendizagem do português. Programas de aprendizagem interativos, aplicativos de leitura e plataformas de e-learning podem ajudar os estudantes a praticar e aprimorar suas habilidades no idioma de forma acessível, especialmente para aqueles que têm pouco acesso a livros e materiais tradicionais.

 

 

Conclusão:

 

A dificuldade de falar português, agravada pelo alto índice de analfabetismo na Guiné-Bissau, representa um desafio significativo para o sistema educacional e para o desenvolvimento social e econômico do país. Para superar esse obstáculo, é fundamental adotar abordagens inovadoras e inclusivas que considerem as particularidades linguísticas e culturais da população. A implementação de métodos bilíngues, a capacitação de professores, a criação de programas de imersão e o uso da tecnologia são algumas das soluções que podem contribuir para melhorar a proficiência no português. Ao enfrentarmos esses desafios, não apenas proporcionamos uma educação de melhor qualidade para os estudantes, mas também abrimos as portas para um futuro mais inclusivo e próspero para a Guiné-Bissau.

 

Autor:Sado Sissé