𝗕𝗮𝗰𝗮𝗿 𝗕𝗶𝗮𝗶 𝗱𝗲𝘀𝗮𝗽𝗼𝗻𝘁𝗼𝘂 𝗮 𝗺𝗶𝗺 𝗲 𝗮 𝗺𝘂𝗶𝘁𝗼𝘀 𝗼𝘂𝘁𝗿𝗼𝘀 𝗴𝘂𝗶𝗻𝗲𝗲𝗻𝘀𝗲𝘀

23/04/2025 em Opinião

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𝗕𝗮𝗰𝗮𝗿 𝗕𝗶𝗮𝗶 𝗱𝗲𝘀𝗮𝗽𝗼𝗻𝘁𝗼𝘂 𝗮 𝗺𝗶𝗺 𝗲 𝗮 𝗺𝘂𝗶𝘁𝗼𝘀 𝗼𝘂𝘁𝗿𝗼𝘀 𝗴𝘂𝗶𝗻𝗲𝗲𝗻𝘀𝗲𝘀

Dr. tomei a liberdade, ainda que de forma angustiante e com escorrer de lágrimas, para fazer este exercício e lembrar-lhe sobre os valores e princípios que defendia ou pregava logo que nos conhecemos. Conhecemos-mos no florir da minha profissão, enquanto jornalista, e o Dr., na qualidade de Magistrado e Presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público. Eram longas conversas enredadas sobre a Guiné-Bissau e a sua justiça. Falávamos de corrupção, dos mais sensíveis casos de assassinatos políticos e da sua audácia em desafiar e enfrentar o sistema judicial então reinante. Olhava no Sr., além da humildade, um guineense inconformista e com a ambição de mudar o “status quo”. Até porque um dia dessas (das nossas ocasionais conversas na calçada do Ministério Público) lembrei-me de lhe ter dito que, se eu tivesse a oportunidade, ia influenciar a sua nomeação ou nomear o Sr. ao cargo de Procurador-geral da República. Isso, sim, eu disse na altura (podes não lembrar). Mas, não foi de ânimo leve, meu caro “Primo”. Resultou de um profundo crédito no Sr., porquanto era das poucas pessoas com as quais eu falava e que me expressava, com vigor, a vontade de ver as coisas mudarem no meu país.

O Sr. carregava forte espírito de patriotismo e o amor pela Guiné-Bissau. Mas hoje, estou a ver um Bacar irreconhecível. Esse não é o Bacar com quem eu falava sobre a podridão do sistema judicial e da sua complacência com a política. Não, não é ele. Pois, se fosse ele (Bacar Biai que eu conhecia) escolheria demitir-se, ao invés de envolver-se numa dinâmica, sem precedente, de violação dos direitos humanos e de perversão de todas as disposições legais que ainda restavam deste país.

Das quatro vezes que passou pela sua casa (Ministério Público), parece que os registos não lhe são favoráveis. Afinal, o que aconteceu consigo “Primo”. O quê? Há muitas pessoas, como eu, que via em si, uma das âncoras para a esperança da Justiça guineense. Muitos, em anonimato, estão hoje desiludidos com a pessoa que hoje é. Me diz: o que mudou? O que mudou para supostamente perder a sua essência? Essência de um homem que não se importava com as circunstâncias de vida e que lutava contra a injustiça.

Bom, umas opiniões vão, ou, se calhar até o Sr. vai perguntar porque é que não lhe escrevi ou não lhe procurei, em privado, para esta conversa. Não posso e não poderia fazê-lo, porque, com tudo que tenho assistido, não creio que o “Primo” esteja em condições de ouvir ou aceitar certas verdades, porque o Sr. mudou. Se é por força/obrigação ou por vontade, a verdade é que o meu “Primo” Bacar Biai, Procurador-geral da República da Guiné-Bissau, mudou!

Até breve!

Lisboa, 23 de abril de 2025.

LC

Por CNEWS

23/04/2025